sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

A história das horas

Teve uma época da minha vida na qual uma pergunta simples me fazia tremer de medo: "Que horas são?" Explico: não sabia ver horas em relógio de ponteiros (e usava relógios de ponteiros, na esperança insistente do meu pai de que, assim, na marra, eu aprenderia) Então, quando alguém me perguntava, eu me fingia de mudo. Sério! E estendia o braço pra pessoa olhar.

Claro que o contrário aconteceu várias vezes comigo. Eu perguntava as horas (quando conseguia me livrar do relógio de ponteiros) e alguém me estendia o braço. Dava aquele sorriso amarelo como de quem diz "Ah, claro, são três e meia" e continuava sem saber que horas eram. Puto da vida com o inventor daqueles malditos ponteiros.

Bom, meu pai usou todas as ferramentas possíveis para me ensinar. O relógio de brinquedo, por exemplo. Eu adorava. Mas olhava pra ele e só via uns desenhos, alguns números muito coloridos e... dois ponteiros. Horas? "Não, papai. Não sei que horas são. Posso olhar no microondas?" E tinha aquele papo-cabeça: o ponteiro pequeno marca as horas, o grande, os minutos. OK...

E aí, um dia desencanei. Afinal, se existem relógios digitais, bonitões, com pinta de sérios, então porque não usá-los? E tem mais. Para mim, sou normal. O resto do mundo - aquela gente estranha que olha pra dois pedacinhos de ferro e lê as horas neles - é que é estranho.

Confesso que o relógio que eu uso hoje tem ponteiros. Mas não se engane, é pura decoração - só pra eu estender o braço pra quem me pergunta! Se você olhar de pertinho, vai reparar que ele tem números lá embaixo. O duro, hoje em dia, é traduzir os números para o hebraico quando me perguntam o horário!!

2 comentários:

Anônimo disse...

e você não está só nesse mundo de gente estranha que lê horas em dois pedacinhos de ferro. normais somos nós, que enxergamos as horas nas horas e que preferimos não pensar no imenso tic tac que nos separa, segundoasegundo.

lindos textos e memória

beijos,

BEL disse...

Peraí! Fui eu ou você quem escreveu essa história?! Ah, bem escrita assim, é claro que foi você! Mas a história é igualzinha à minha!HAHAHA
E viva o relógio digital!!!